Na analise desta questão temos de partir de um princípio básico: Moodys teve razão quando baixou do Rating da república portuguesa.
A degradação do nosso défice nos últimos anos, suportados negativamente pelos nossos governantes com informações erradas sobre a realidade do mesmo através de relatórios falsos, levava inevitavelmente a uma falta de confiança das referidas agencias.
O facto de a transparência das mesmas não ser visível. O facto de os critérios de avaliação não serem os mesmos quando analisam os Estados Unidos e a Europa, não põe em causa a correcta avaliação que fazem da potencial capacidade do Estado Português de cumprir com os seus pagamentos.
Os factos são que os investidores, esses seres anónimos, que ao minuto compram e vendem nos mercados, baseiam-se nessas analises para as suas decisões de analise de risco provocando inevitavelmente a exigência de juros mais altos na compra de divida de países como o nosso.
Porque razão é que estando vários Estados americanos em situação pior que países europeus, o Rating que é dado a esses estados é superior aos países europeus ?
O facto é que os grandes acionistas destas empresas são grandes conglomerados financeiros americanos e a médio prazo um enfraquecimento da Europa poderá dar tempo a uma recuperação dos EUA. No entretanto, os investidores vão conseguindo realizar mais valias muito significativas, não só nos juros que cobram mas também na compra de participações em empresas europeias que se desvalorizam devido a baixa de Rating das agencias.
O mundo está num mercado financeiro global e cada vez mais se nota o poder dos grupos financeiros à escala mundial, sobre as decisões políticas dos estados.
Neste contexto parece-me aceitável dizer que o mundo se encontra numa nova espécie de guerra. Guerra essa que numa primeira fase é travada entre duas economias com moedas fortes (dólar e euro), para numa segunda fase, ver quem sobrevive face à economia emergente com uma futura moeda forte (China com o yuan).
Em paralelo com esta primeira fase, vemos infelizmente, na Europa, uma guerra regional onde os países mais fortes como a Alemanha e França, tentam liderar os mais fracos no interior de uma União Europeia, onde em vez de se decidir a favor da União, se decide mal ou muitas vezes não se decide.
Se na história as guerras eram decididas pelos políticos, agora são decididas directamente por quem tem o poder financeiro. Os políticos são ultrapassados por estes. Mas na história houve sempre políticos que sobressaíram e conseguiram consensos fosse com guerras ou tratados. Richelieu com a sua Raison D´Etat, Meternich com o seu sistema pós Congresso de Viena 1815, Bismark, Wilson com os seus 14 pontos no pós 1ª Guerra Mundial, Kohl com a unificação da Alemanha etc.
Políticos de craveira como os referidos, infelizmente não aparecem para liderar uma nova ordem mundial.
Chegou a altura da Europa mudar o paradigma e o status quo que vigora desde a 2ª guerra mundial e mais concretamente depois das decisões tomadas depois dos crash de 1929. O Euro é apesar de tudo uma das moedas mais forte do mundo. A unidade da Europa tem de ser uma realidade, mesmo que para isso os países percam alguma da sua soberania seja através da emissão de euro bonds, seja através de empréstimos directos aos estados seja inicialmente através da existência de um ministro de finanças europeu.
O caminho a longo prazo para uma Europa Federal é o caminho correcto se não quisermos destruir tudo o que se conseguiu até agora. Mas num mundo globalizado como o nosso, torna-se imprescindível a preponderância dos políticos sobre os financeiros que regule a especulação nos mercados e com consensos políticos se caminhe para uma sociedade mundial mais justa e solidária.
Nos os portugueses, só temos que ir fazendo o trabalho de casa e contribuir com o nosso pequeno peso nas decisões europeias. Mas as grandes decisões, essas, não estão na nossa mão.